Seis meses em Manaus


No próximo dia 22 de agosto faz seis meses que estou em Manaus. Um período que se mostrou precioso para mim. Quando decidi, efetivamente, me dar um tempo - coisa que eu nunca tinha feito - não imaginava como seria bom e proveitoso. É claro que largar emprego, amigos (nem tantos assim) e família não é fácil. Dá saudades, sim. Sentimentos de arrependimento e de coragem se alternam antes de bater asas.
Mas daqui de fora vi como somos condicionados a muita coisa pela educação que recebemos em casa e fora dela, na escola, no clube, na roda de amigos, enfim, de gente que te quer bem e de gente que não te quer bem. E pior que isso: tinha (temos) a mania de quando não entendia algo, deduzia. E aquela dedução virava verdade absoluta. Mesmo que falsa.
Este tempo distante daquele meu mundo está me dando a chance de enxergá-lo. Preocupei-me demais com o que não deveria, amei de menos do que deveria. E falo de amor na sua forma mais plena. Li menos do que queria, fui pouquíssimas vezes ao cinema, escrevi pouco, pouco mais que nada. Vi menos a quem queria ver do que precisava.
Passeei pouco e quando fui, fiquei mais preocupada com o que ficava.
E hoje aprendi a não me arrepender do que não fiz, porque aprendi a aprender com o que vivi. Ou não vivi. E mais: aprendi a sentir mais o que desejo. Jamais li como tenho lido, jamais fui ao cinema como tenho ido, jamais assisti a filmes em casa como tenho assistido. Jamais passeei como tenho passeado. Longos passeios? Não. Por vezes apenas uma visita ao centro da cidade, ao porto, ao teatro. E de ônibus.
Tenho outros seis meses aqui, dentro do planejei, quero e pretendo realizar. Ter amigos em Manaus e me incorporar ao grupo de amigos deles me facilitaram muito as coisas. Serei eternamente grata a todos. Já não sou mais a mesma pessoa. Estou melhor para mim mesma. E ainda tenho muito, mas muito, que caminhar.
Muitos dos meus amigos me abordam (a internet facilita demais as coisas) e dizem sonhar, um dia, em dar um tempo para si mesmos. Pois digo que isto deveria ser uma regra, algo mais do que natural, algo mais do que previsto. Não se perde nada em caminhar ao encontro de si, olhar-se sem medo do que vai ver. As pessoas à nossa volta não deveriam temer esse momento. Deveriam compreender se nos amam. Não há qualquer insanidade.
Temos – e me permita generalizar pelo tempo do verbo - o costume de carregar coisas a mais do que necessitamos, comprar a mais do que temos capacidade de usar e comer. Subir morros com caixas pesadas nas costas. Amar menos do que devemos. Temos o péssimo costume de buscar respostas fora de nós mesmos, de culpar quem está ao nosso lado. De apontar o dedo.
Viver bem é tão fácil e é urgente entender por que complicamos tanto.
Ah! E descobri que dormir na rede é milhões de vezes melhor do que na cama.

2 comentários:

Cláudio Henrique disse...

Nossa Maria, que aula de vida que você me deu ao postar este texto. Como sempre, de parabéns.

Maria Antonia disse...

Abraço, meu amigo.