As lições do padre Viana

Hoje, 2 de novembro, assisti a uma missa, na capela do cemitério de Pederneiras, cuja homilia foi surpreendente. Também pudera, o celebrante foi ninguém menos que o padre Viana, um missionário que há 17 anos percorre as margens dos rios na Amazônia levando a palavra de Deus e, além disso, lutando pela melhoria social daquela população. Padre Francisco Viana Pires, de 79 anos, barba e cabelos longos e brancos, já teve Lenini no nome, pois o pai, socialista que era, quis homenagear Lenin. "Eu também admirava o Lenin", conta. Ele me disse que a congregação que o ordenou o fez tirar o Lenini de seu nome: "Certamente eu teria sido preso pelo regime militar. Foi bom terem feito isso", ri da situação.

Padre Viana é dessas figuras que povoaram a minha infância, e a da minha família, porque ele tinha uma irmã, a Delurdes (que tinha uma escola de datilografia) e morava na esquina de casa. Daí, para vê-lo, era corriqueiro.

Em sua homilia de Finados fez boa parte dos presentes se emocionar: afirmou que as pessoas ressuscitam em corpo e alma logo após a morte e estão sempre ao nosso lado, olhando por nós. Ver e ouvi-las não é um privilégio de médiuns, como acreditam os espíritas, mas de todas as pessoas, embora a maioria não consiga e talvez nem queira. Portanto, a ressurreição dos mortos se dá pouco após a morte e não no final dos tempos. Perguntei a ele sobre isso: "Está tudo no Creio em Deus Pai", ensina.

Fala da morte como o caminho para a vida eterna, de uma forma leve. Descreve o céu e fala de Deus, entre brincadeiras e figuras de linguagem, lembrando aos cristãos o seu compromisso com Ele, acostumado que é a ter se de fazer entender por uma gente muito humilde. Passa a mensagem mesmo. Utiliza exemplos de sua própria família, enfim, sabe como poucos padres se comunicar com seus fiéis.

Padre Viana falou também sobre o inferno e o purgatório, cujo segredo não está no tempo em que uma alma pode ficar, mas na intensidade. "Você acha que se um filho arrependido pede perdão ao pai e à mãe eles não perdoam?", indaga, ao falar da super-abundância da graça de Deus.

Por fim, converso um pouco sobre o trabalho dele em Rondônia e a convocação que fez a leigos para que deem um mês de trabalho ao ano, para a sua missão, a Missão Católica do Beiradão, que atua na região há 20 anos.

Além do audio, tem algumas fotos da missa. O padre volta no dia 3 (terça) à tarde para Guajará-Mirim, cidade sede da missão. E segue com seu trabalho.

O e-mail dele é pefranciscoviana@hotmail.com ("Viana com um n só, me tiraram uma perna do Vianna; sou dos Vianas pobres"...).

Vou parar de escrever. Postei dois audios da conversa que tive com ele logo após a missa. O primeiro pedi a ele que resumisse a sua homilia. No segundo, pergunto sobre seu trabalho em Rondônia e sobre a atuação de leigos na missão.
Espero que apreciem.